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OPINIÃO: Deus não joga nem vota

No futebol, já ouvimos uma famosa frase: "Deus não joga, mas fiscaliza". Sua criação é atribuída ao jornalista gaúcho Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro, falecido em 1999. Ela virou um ditado quando uma enorme injustiça era reparada nos gramados. Mas, e na política, por que Deus é citado aos quatro ventos em tribunas, nas ruas durante a campanha e até em debates televisivos que reúnem os candidatos?

Alguns, com jeito de lunáticos ou bom samaritanos, carregam até bíblia e citam capítulos e versículos do livro sagrado para impressionar o oponente e, claro, o espectador. Na minha modesta opinião, Deus tem atividades mais importantes para resolver no mundo em vez de orientar candidatos, por vezes, irracionais e divagadores. O Brasil é oficialmente um Estado laico, pois a Constituição Federal e outras legislações preveem a liberdade de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e respeito às manifestações religiosas.

No artigo 5º da Constituição Brasileira (1988), inciso VI, está escrito: "É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias." O termo "laico" tem sua origem etimológica no grego laikós, que significa "do povo". Está relacionado com a vida secular (mundana) e com atitudes profanas que não se conjugam com a vida religiosa. Na origem, a palavra laico servia para descrever cristãos devotos, mas que não faziam parte do clero. A partir da segunda metade do século XIX, a palavra ganhou o sentido de uma pessoa, organização ou atividade autônoma e sem ligação à esfera da religião. Em um Estado laico, que defende a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos e não permite a interferência de tais correntes em matérias sociopolíticas e culturais, isso precisa ser respeitado. Portanto, a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado.

Afinal, vale lembrar, que o laicismo foi responsável pela separação entre a Igreja e o Estado, e ganhou força com a Revolução Francesa. A laicidade do Estado, entretanto, pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado, e um aspecto que contraria essa postura é o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras sem a diversidade cultural. Nos países que não são laicos (teocráticos), a religião exerce o seu controle político na definição das ações governativas. Entre exemplos de nações teocráticas, podemos citar o Vaticano (Igreja Católica), o Irã (República Islâmica) e Israel (Estado Judeu).

Outro conceito existente é o de Estado confessional, no qual é reconhecida uma determinada religião como sendo a oficial da nação. Apesar disso, não se deve confundir Estado teocrático com Estado confessional. No primeiro caso, é a religião que define o rumo do país. Já no segundo, a religião não é tão importante, mas ainda assim tem bastante influência. Diante de tudo isso, é um exagero achar que a crise social, econômica, ética, moral, etc do Brasil tem algo a ver com Deus. A responsabilidade maior é das pessoas que comandam o país e atuam no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

Evidente que a população tem, igualmente, uma parcela de culpa no processo. Isso ocorre quando o "jeitinho brasileiro" e "o leve vantagem você também" entram em cena no cotidiano das pessoas. Ao eleitor e eleitora, no momento de escolher os políticos para representá-los, é importante fazer um levantamento sobre a vida e as atividades dos candidatos. Eleger gente despreparada é um erro grave, assim como acreditar em salvadores da Pátria e políticos profissionais. Depois, não adianta rezar nem se queixar a Deus

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